sábado, agosto 28, 2004

Tendo como campo de visão uma sala mau decorada e um corpo estendido no chão, Sara coloca um cigarro entre os dedos, umedece os lábios, leva o cigarro até a boca, tira do bolso interno de seu casaco um isqueiro metálico e acende o cigarro. A primeira tragada soa como um suspiro em chamas, a segunda lhe traz uma sensação nostálgica de que já havia visto aquela cena milhares de vezes, e, de fato ela já havia executado trabalhos semelhantes onde todos os corpos se parecem com o da primeira vítima.
Os 10 segundos que Sara permaneceu ao lado do corpo encarando-o caíram para ela como um filme, onde a sua vida era encenada por pessoas que ela nunca conheceu e em situações que ela não estava, mas era a sua vida, tinha que ser, afinal era a única que ela lembrava.
A alta mulher sai do quarto deixando para trás três balas 9mm presas entre o flácido corpo estendido no chão, sujando o que parecia o único tapete da sala.

sexta-feira, agosto 27, 2004

Depois de deitar a sua cabeça no travesseiro ele pensa no dia que passou, em todo os serás, em todos os quem sabe que o seu dia lhe apresentou e em todas as vidas que ele podia ter escolhido. Seria melhor ter dito sim para ela? Será que teria dado certo? Mais uma vez ele sente que a vida tem mais talvez do que sim, que seus medos tem mais bocas do que ouvidos.
Um passo no corredor lhe faz lembrar do que ele será quando decidir por todos os poréns. Será ele alguém que possa dizer sim? Será apenas o talvez que sempre foi? Que sempre temeu. Seus pensamentos se perdem em possibilidades de uma vida diferente, de um beijo, de um tapa. Toda a vida ele sentiu que vesia uma luva que não lhe servia, mas uma que ele amava e temia. Temor. Temor. Temor? De que?
Não seria melhor tentar fazer alguma coisa? Será que daria certo? E se não der? Mas eu quero... Quero...
Seus olhos fechados e seu corpo relaxado dormem enquanto a sua mente se perde em algum pensamento naufragado pelo mar de dúvidas, amores, piadas, cantos, casos e descasos que habitam sua vida e pulsam seu coração.

terça-feira, agosto 24, 2004

Uma vez, num simples dia onde o sol se esconde de todos e nada parece dizer que o tempo ainda anda, que a vida ainda encontra o seu meio ou que o sonho já acabou, encontrei um senhor junto à porta de um bar sem letreiro que me contou uma história sobre um tempo em que a sua tripulação lutava, em que ele sorria e seu navio flutuava. Contou-me com um semblante tranqüilo e conformado com os calos que as suas mãos edificaram e, que mesmo sem labor, continuava a contar-lhe todos os dias sobre sua história.
Durante a história tive a impressão de que seu olhos esboçaram uma lágrima enquanto falava sobre uma mulher, mas que rapidamente evaporou nas ríspidas palavras que fluíram de seu coração. Foi a única vez que vi tal expressão na face de um homem.
Ao terminar a história, ele sorriu com seus profundos olhos e disse sem exitar:
-Não corra por um campo sem saber onde mora o seu coração. Mas, meu filho, não se dê o trabalho de escutar tais palavras e pensar que são verdades, pois, afinal de contas, eu sou apenas um velho sentado ao lado de um bar sem letreiros, com uma caneca vazia e um coração cheio de pegadas.

segunda-feira, agosto 23, 2004

Terceiro cigarro e nada.
Deve ser a chuva. Mas como a chuva poderia atrasar alguém
que está a pé se ela parou fazem duas horas? Pelo menos a
noite está agradável e eu tenho
Da janela de seu astra verde escuro, Sara podia ver um
homem dobrando a esquina rapidamente como se o mundo
estivesse olhando ele.
O homem para em frente a um prédio, procura algo no interior
do casaco, abre a porta, entra no prédio e desaparece na bruma
que o envolvia.
A porta se fecha atrás dele.
Último cigarro. Último gole de café.
Hora de agir.
A luz entra no quarto como o primeiro gole d`água depois de
dias de sede. Um homem vestindo uma napa entra apressado
no apartamento abraçado em uma pasta marrom escuro. Ele fecha a porta e volta a ser rodiado pelos braços da escuridão. Mais uma vez a sala é assolada por uma tênua luz que vem de um pequeno abajur numa mesinha ao lado de uma poltrona para revelar uma sala bége, com uma velha televisão perto da janela, a poltrona e seu abajur, duas portas dispostas uma em cada lado da sala e, atrás do homem, uma mulher magra, alta com uma armas equipada com um silenciador e envolta por um saco plástico na mão. A arma é apontada para a nuca do homem que, ao sentir a presença de alguém e o frio toque do cano, fica imóvel e diz:
- Não há mais nada que possa ser feito...
Após uma curta pausa a mulher diz:
_ Há sim.
Três tiros entram no crânio do homem que, antes de tocar o chão, provavelmente já estava morto.

domingo, agosto 22, 2004

quem sabe esse possa ser o começo de um história interessante...>
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Quem nunca se sentiu sozinho?
Quem nunca teve medo do escuro? De ficar em um lugar onde os únicos sons presentes fossem os da sua imaginação ritmados pelas aceleradas batidas do seu coração?
Eu tive. Eu tenho.
Nem sempre fui assim. Teve um tempo onde o escuro me fazia dormir e a solidão me trazia saudade. Bons tempos que duraram 12 anos.Minha história, apesar de ser escrita a partir das lembranças de uma garota de 12 anos, não foje muito da realidade, uma vez que são as únicas de tenho. Naquele dia, eu descobri que era muito nova para saber e muito nova para entender o que a mente humana esconde debaixo do seu manto de normalidade, o que cada um esconde até de si mesmo. Encontrei Marcos.