sexta-feira, julho 24, 2009

"Em primeiro lugar, a abundância de espelhos. Se há espelhos, é estágio humano quereres ver-te nele. Mas nestes não te vês. Tu te procuras, buscas tua posição no espaço na qual o espelho te digas 'estás aqui, e és tu mesmo', e acabas te danando todo, te aborrecendo, porque os espelhos de Lavoisier, sejam côncavos ou convexos, te desiludem, escarnecem de ti: arredando-te, tu te encontras, mas depois te deslocas e te perdes. Aquele teatro catóptrico fora disposto para tolher-te toda identidade e fazer com que te sintas inseguro de teu lugar. Como se te dissesse: não és o pêndulo nem estás no lugar do pêndulo. E te sentes não apenas inseguro de ti mas igualmente dos objetos colocados entre ti e outro espelho. É verdade que a física sabe o que é e por que isso ocorre: basta colocar um espelho côncavo que recolha os raios emanados do objeto - neste caso um alambique sobre uma panela de cobre - e o espelho reenviará os raios incidentes de modo que não vejas o objeto, bem delineado, dentro do espelho, mas tenhas dele uma intuição fantomática, evanescente, ao meio-termo, e invertido, fora do espelho. Naturalmente bastará que te movas um pouco para que o efeito desvaneça.
Mas de repente, me vi, invertido noutro espelho.
Insustentável."

(O Pêndulo de Foucault, Umberto Eco, pg. 19)

quinta-feira, julho 23, 2009

Eu quero mais de um dia. Quero mais de uma noite. Eu quero mais de uma canção. E mais que uma canção.

Quero mais do que esses pouco minutos que tenho antes de sair. Quero. Quero. Quero.

Quero ser alguém tão completo que acabo por esquecer que são as vagas vazias que fazem da estrada um lugar a ser sempre visitado.

sexta-feira, julho 17, 2009

Agora aqui neste blog temos um player. Tenho certeza de que deves ter notado isso antes mesmo de ler essas linhas. Podes ficar tranqüilo(a). Esse aviso foi mais para as mentes - falo por mim - que perdem o norte com Alan Parson.

Feel free to pause it anytime. :D

segunda-feira, julho 13, 2009

Nós crescemos com sussurros de vidas felizes e somos forçados a escolhermos por apenas uma canção. E a pergunta que fica é qual deve ser a música certa a compor a trilha sonora de uma vida inteira. Essa é a pressão. Essa é a labuta. Essa é a vida cantada por um coro a ser escolhido.

A pergunta que fica nunca é qual é a melhor música, mas como teria sido as outras.

quarta-feira, julho 01, 2009

Bom, para os Maias, tribo Hopi e uma cambada ai o mundo não passa de 2012. Tem uns que dizem que até vai chegar no Natal, mas outros defende que nem a Páscoa a gente vê. Têm outros que falam que será a renovação ou novo mundo. Coisa assim. Mas esses perdem totalmente a credibilidade porque sempre colocam um papo esotérico no meio. Dai só acredita quem lê horóscopo e diz "siiiim! É bem assim!"

A verdade é que 2012 ou o mundo acaba mesmo ou uma grande rede de lojas de departamentos chamada Os Maias inaugura em várias capitais no dia 21 de dezembro e fica conhecida como a maior jogada de marketing do mundo desde a água e o vinho de J. Cristo (32).

Disso tudo o que fica para a gente? Bom, não vou mudar nada com medo de ficar com cara de babaca se nada acontecer. O que a gente pode fazer é elaborar algumas piadas, apostas, pensamentos otimistas e afins.

E se tudo acabar mesmo? Dai a coisa é diferente. Procure abrigo fora dos prédios por causa dos terremotos, longe do litoral por causa dos tsunamis e longe de vulcões.

Se "meu reino por um cavalo", de acordo com Shakespeare, dito por Ricardo III, é uma piada que designa uma negociação trapaceira, a próxima para nosso futuro apocalíptico será "...E tu fica com a Copa de 2014".
Fico pensando naqueles que estão em outros mundos.

Não falo daqueles que habitam outros planetas, mas daqueles que andam pelas ruas, comem e bebem seus dias, respiram a fumaça do tempo, e mesmo assim, estão em outros mundos. Falo daqueles que fazem seus ofícios sem pensar no seu chão, no seu céu, apenas umedecem trapos de sonhos com suor.

Fico pensando naqueles que estão em outros mundos.

Àqueles que vivem suas felicidades longe vão meus pensamentos. Àqueles que fazem sem pensar um enorme tear para ser pisado por gerações futuras vai a minha angústia. De olhares perdidos dentro de ônibus ou em uma pressa sem fim pelas ruas, são esses que ocupam a minha atenção.

Fico pensando naqueles que são outros mundos.

Fico pensando naqueles que têm uma vida inteira para sonhar e por fim acordam antes de sorrir. Fico pensando nos mundos esculpidos dentro de horários de almoço, pausas para respirar, como se no meio de uma tempestade fosse permitido um breve momento de emergir à superfície para um desesperado fôlego. Mas o relógio, exemplo de trabalhador perfeito, não pára. E lá se vê mais um a afundar na tempestade para suar seus sonhos.

Fico pensando em quantos Freuds, Michelangelos, da Vincis, Einsteins não se perdem nessa tempestade?