segunda-feira, maio 22, 2006

"A maior de todas as sabedorias é o silêncio".

Bom, chegou a hora de treinar essa sabedoria.

sexta-feira, maio 19, 2006

Triiiiim! Triiiiim! Triiiiim!

- Alô?
- Oi...
- Oi. Quem é?
- Sou eu, Jorge. Eu.
- Ah... Oi.
- Tudo bem?
- Sim, e contigo?
- Tô com saudade.
- A gente já conversou sobre isso, Sandra. Tu sabe o que eu acho...
- Mas o que eu faço com essa saudade?
- Desculpa... Não sei. Ah... Não vamos discutir isso de novo.
- Não quero discutir mesmo...
- Então?
- Só queria ouvir a tua voz.
- Não sei se é a melhor idéia. Não é a melhor idéia. Vai ficar tudo bem.
- Não diz isso! Já cansei de ouvir tu dizer isso sempre!
- Por isso e tantas outras coisinhas que a gente não tá mais junto.
- Verdade. Bem lembrado... Hmmmmm... Que coisa...
- Que foi?
- Eu vi uma coisa... Muito importante.
- O que?
- Eu não te amo.
- (...) Por quê isso agora?
- Como assim?
- Ué?! Sei lá! isso é meio agressivo, não acha?
- Não... Eu vi que não te amo, Jorge. Só isso. Na verdade, nem sei se algum dia te amei.
- Bah, mas não precisa ficar dizendo isso. Sério.
- Eu sei... Desculpa, vai?
- Sei lá... Deixa assim.
- Aham... Bom, Jorge, tô atrasada. Te cuida!
- Tu tamb...

Tuuu. Tuuu. Tuuu.

E ele secretamente nunca parou de pensar nela. Por quê ela foi ligar? Por quê dizer aquilo? Ele tava indo tão bem...
Prelúdio de uma vida inexistente

"Cara, hoje eu vi ele lá perto de onde trabalho. Foi uma coisa muito estranha. Ele parece ter no mínimo uns cinco anos a mais que a gente, mas sem parecer mais velho. Mas ele sempre foi assim, profundo, misterioso e ele mesmo. Não tinha como ter sido diferente, não é? A gente não poderia ter feito nada. É nisso que eu tento acreditar. Tento pensar. Não falei com ele. Cruzei com ele pela rua. A gente se olhou e te digo que aquele olhar me deixou completamente nu ali. Não foi preciso dizer nada, a gente sabia o que dizer. E de fato dissemos, em alto e bom olhar dissemos tudo. Ele parece bem. Mas, em plena rua, dificilmente alguém não parece. Nunca mais vai ser do mesmo jeito. Nunca foi do mesmo jeito. A gente mudou demais para aceitar a realidade com o mesmo olhar. A gente caiu demais para achar que subir de novo pode ser sensato. Cada um de nós se mudou para dentro de si mesmo. E fechamos as portas."

quarta-feira, maio 17, 2006

Queria ser eloqüente nos meus sentimentos e pensamentos como sou quando caminho. Seria mais fácil se eu fizesse parte do mundo. Não digo que não faço. Realmente acredito que faço, acredito que estou aqui. Mas como ter certeza se a única coisa que me mantém em contato com o mundo - aquilo grande e completo que dizem ser real - sou eu mesmo. Quem se dá ao luxo de acreditar piamente no que vê, escuta, sente ou cheira? Quem pode realmente dizer que azul é azul igual ao azul que se vê? Azul é azul? Pizza tem cheiro de quê? De pizza? Mas como é esse cheiro? Não existe nada no mundo que seja real para mais de uma pessoa do mesmo jeito. Tudo no mundo é real para o indivíduo e irreal para o resto. Só pode ser real aquilo que percebemos, além disso, tudo não existe. Podemos até saber que existem outros países, outro mundos, mas eles só se tornaram real quando nós os percebemos. O que seria da curiosidade se tudo fosse real para todos? Nada.

Então, me vejo fechado e sozinho dentro de mim. Tendo como único canal de acesso ao mundo externo o que eu sou. O Eu de Freud. O Nós e o Alex de Roth. O Gárgula de Auster. O Self de Jung. A barata e a boneca de kafka. A Cartomante de Assis. Todos e outros são a única procura coerente que um ser humano pode fazer, a única que talvez possua uma resposta. A eterna procura pelo eu.