sexta-feira, maio 19, 2006

Prelúdio de uma vida inexistente

"Cara, hoje eu vi ele lá perto de onde trabalho. Foi uma coisa muito estranha. Ele parece ter no mínimo uns cinco anos a mais que a gente, mas sem parecer mais velho. Mas ele sempre foi assim, profundo, misterioso e ele mesmo. Não tinha como ter sido diferente, não é? A gente não poderia ter feito nada. É nisso que eu tento acreditar. Tento pensar. Não falei com ele. Cruzei com ele pela rua. A gente se olhou e te digo que aquele olhar me deixou completamente nu ali. Não foi preciso dizer nada, a gente sabia o que dizer. E de fato dissemos, em alto e bom olhar dissemos tudo. Ele parece bem. Mas, em plena rua, dificilmente alguém não parece. Nunca mais vai ser do mesmo jeito. Nunca foi do mesmo jeito. A gente mudou demais para aceitar a realidade com o mesmo olhar. A gente caiu demais para achar que subir de novo pode ser sensato. Cada um de nós se mudou para dentro de si mesmo. E fechamos as portas."

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