Hoje faz sol para as bandas de cá.
Apesar de sentir ainda a chuva nos meus sapatos, fico feliz com o calor do sol. O chão quente e cheio de vapor me lembra a minha infância, onde escondido atrás da porta da cozinha via minha impávida mãe dançando entre panelas fumegantes, cores secas e cheiros de conforto e felicidade.
Gosto tanto de olhar para a rua e ver o dia tomando seu posto soberano ofuscando os olhos de todos. São momentos assim que poderiam se eternizar. Nessas horas eu penso em cidades diferentes, onde o mesmo sol apressa os pedestres. Lembro das capelas de vidro, protegendo seus fieis apenas da idéia de insegurança.
Desde as cozinhas laboratoriais de nossa infância até nossas altas capelas de transparente vidro, temos o mesmo sol e a mesma chuva, no entanto, rezamos para tais divindades de formas diferentes.
Hoje faz sol para as bandas de cá, e eu, nessa alta catedral de vidro, ainda sinto o cheiro do manjericão, da chuva no gramado, do feijão e daquela dança enevoada que embalou meu dias na cozinha da minha infância.
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