segunda-feira, março 23, 2009

Sobre o aparelho digestivo

(...)

Pensei sobre aquele assunto anos e anos a fio. Acredito que por volta de 8 anos esse assunto foi pauta permanente das minhas epopéias pessoais. Todas as minhas criaturas internas se degladiaram num frenezi de discórdias e discussões. Alguma retaliação sempre sobra para os pobres que escolhem no mundo a missão de defender outrem.

Foi exatamente esse barulho de pratos, choro, urros de raiva e risadas histéricas que me acordou hoje pela manhã. O som foi escutado somente por mim e em minha lembrança apenas ficou. Mais um dia para a eterna divergência interna.

A digestão dessas assombrações do passado nunca termina. Após anos sentindo o refluxo ácido de tudo que aconteceu, chegei às mesmas perguntas que sempre tive. As mesmas conjecturas hipotéticas de o que teria acontecido se eu... Se eu... Se eu... Se eu... Se eu... Seu eu... Sueu e... Eus ue... Se.

Pensei sobre aquele assunto anos e anos a fio. E após todo esse pensar, gritar, discutir, reclamar, aceitar, discordar, brigar, perder e ganhar a razão, ter nenhuma razão, eu cheguei a fatal conclusão de que o que me aconteceu - qualquer que tenha sido a situação - não tem qualquer importância.

A única coisa que realmente é impossível de digerir é a permanente exalação desses "se".


Trecho do livro "Minha querida Ilha", de Ivan Patarca.

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