O céu de outono sempre lhe causou especial sensação de amparo. O som daquela estrada de chão ainda era o mesmo - o vento dançando com as folhagens, as pedras estalando sob seus sapatos e o sonoro sorriso que ensaiava sua primeira aparição em anos.
Passando por aquele grande pórtico que delimitava onde começava e terminava sua infância, ele sentiu um sopro de aromas perdidos em nossas fantasias. Tudo parecia igual. Mesmo carvalho, mesmo balanço - e na sua testa a mesma cicatriz. Mesma cerca de arame, mesmas estacas - e em suas mãos as lembranças das farpas e calos. Mesmo galpão, mesmas baias - e no seu passado o cheiro de virgindade perdida. Mesmo gramado verde, mesma casa - e naquela estrada de terra, novamente o mesmo menino.
Ao final daquela estrada se encontrava uma grande casa branca, com sua grande varanda a lhe abrir os braços, com suas cinco janelas no andar de cima a lhe sorrir e com a mesma fumaça saindo de sua cabeça a lhe avisar que o coração ainda arde de dor e saudade. Seus passos se tornaram cada vez mais acelerados como se a criança que acordava estivesse desesperada por correr. Tudo foi tão forte que ele mal notou seu chapéu cedendo ao vento e voando quando finalmente se pôs a correr.
Naquele frenesi em passos rápidos e descoordenados de um desesperado foi a sua primeira gota de lágrima a avisar o solo árido que o tempo da saudade acabara. Nunca se viu tão certo de si, de quem ele era desde o dia que ainda menino cruzara aquele pórtico no sentido contrário.
Para muitos é apenas mais uma visita, abraços e beijos. Uma conversa descompromissada. Um acerto de contas. Ou quem sabe um motivo festivo. Mas aquele turbilhão de sentimentos explodiu dentro dele e só lhe restou pensar "como é bom estar em casa".
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