As vezes eu tenho a nítida sensação de que todas as palavras tem vida própria. Vida não seria a melhor palavra. Vida tem o escritor e suas experiências. Vida tem o leitor e seu deleite. Já as palavras não tem esse tipo de vida. São, assim como os vírus, vivas e mortas.
Quem escreve esta infectado com palavras. Em uma crise de gripe silábica, ele escreve textos ou até mesmo um livro. Aqueles que vivem escrevendo são pobres doentes terminais, fadados a passar sua existência entre duas linhas.
As palavras são vírus que não possuem cura. Quando não estamos sofrendo de seus efeitos maléficos apenas não escrevemos. Quem sabe escrevemos algo por mero instinto hipocondríaco, mas isso não é um efeito claro das palavras.
Quando somos afetados pelos seus efeitos sentimos na hora que elas estão vivas. Que não depende de nós decidir se isso ou aquilo será escrito. Quiçá escolheremos o título dessa febre. As vezes somos acordados para ajeitar as palavras entre si para que não briguem com impiedosos golpes gramaticais. Mas a verdade é que no turbilhão da febre sentimos um calor que vem de dentro e se converte em energia para mover rapidamente nossos dedos, sem fala na velocidade do mundo - ah! A velocidade do mundo - que sem mais nem menos pára e fica num canto perdido. Apenas as palavras andam e nos deixam como espectadores.
Nos momentos de febre, o mundo mais parece o quarto ao lado.
Sei de loucos que voluntariamente se deixam infectar cada vez mais por este mal, lendo livros com milhões de manifestações de outros infectados.
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